sábado, 11 de fevereiro de 2012

Judas Priest - Stained Class

Quando falamos em Heavy Metal, o nome Judas Priest surge em nossas mentes de forma quase automática. Quando falamos em Judas Priest, a imagem da gilete de British Steel aparece em nossas mentes de forma quase que holográfica. Todo apreciador de classic rock, todo headbanger entende que se não fosse o Hell Bent For Leather dar as pistas necessárias para o visual e para o som, British Steel, no mínimo, seria bem diferente. Sem dúvida isso é verdade, porém essa busca por uma sonoridade mais ácida e direta começa já nos primeiros trabalhos, mas em Stained Class parece que o caminho foi encontrado. Guitarras gritadas, vocais em falsete, contra baixo com sonoridade mais grave segurando as tônicas, e bateria mais pesada têm em Stained Class sua marca registrada. Essas características de som seriam aprendidas pela maioria das bandas de metal 80´s como o poderoso Accept por exemplo. Basta comparar Exciter que abre o álbum em questão com uma fantástica Fast as a Shark, e o leitor amigo poderá tirar suas conclusões. Desde Rocka Rolla o Judas buscava sua identidade, e foram criando diferentes fórmulas para cada álbum lançado. Até Sin After Sin, a banda possuía um som mais elaborado, com interlúdios, vinhetas, uso de teclados, pianos e certa quantidade de overdubs. Em Stained Class a banda captura a crueza das apresentações ao vivo e as traz para dentro das composições. Soa familiar não? Nessa época o talentoso baterista Les Binks assume as baquetas, pois Simon Philips, que gravou o disco anterior, era apenas um músico contratado e não saiu em turnê para divulgar Sin After Sin. Binks assina a autoria juntamente com Halford de um dos maiores clássicos da banda, Beyond The Realms Of Death. O dedilhado de violão foi criado por Binks e deixou Downing de queixo caído, e Halford já tratou de encaixar a letra. Todos os músicos participaram das composições em Stained Class, inclusive um calado, mas competente, Ian Hill, que assina os créditos em Invader, juntamente com Tipton e Halford.
Já em Stained Class temos a mudança da logo. É a primeira vez que a logo eletrificada aparece, substituindo a logo gótica dos 2 álbuns anteriores. O apelo “ficção científica” com um enigmático crânio metálico derretido e suas cores quentes indicam uma poderosa mudança no visual e na potência sonora. Mas ainda aqui, a banda ainda não estava usando os adereços de couro, e sim as esquisitas camisas floridas e calças boca de sino típicas dos anos 70. Stained Class foi gravado entre novembro e dezembro de 1977, utilizando estúdios e produtores diferentes. Quase todas as trilhas foram produzidas por Dennis MacKay e registradas no Chipping Norton studios na Inglaterra. Quando foi solicitada a gravação para o single, uma cover da banda Spooky Tooth foi escolhida, mas Mackay não estava disponível para a produção, então a banda contatou James Guthrie para produzir a trilha no Utopia Studio. O problema é que, anos mais tarde, Better By You Better Than Me se tornaria um dos ganchos para o processo que a banda enfrentaria. Em junho de 1990
James Vance, de 20 anos, e seu amigo Raymond Belknap de 18, fizeram um pacto após fumar muita maconha, beber e ouvir Stained Class inúmeras vezes. Um pacto de suicídio que ocorreu tristemente dois dias antes do Natal de 1985 em Reno, Nevada (EUA). Esses dois malucos escaparam para os fundos de uma igreja levando uma espingarda de caça, decididos a acabar com suas vidas. Belknap foi o primeiro a colocar a arma debaixo de seu queixo e disparar, morrendo instantaneamente, enquanto Vance sobreviveria com severas deformações em sua face. Depois disso Vance escreve uma carta aos pais de Belknap dizendo que o álcool e a música de bandas como Judas Priest, os levaram a concluir que a resposta para vida seria a morte. A família Belknap levou então a carta de suicídio ao advogado Attorney Ken McKenna. Como Halford declarara em entrevista, esses jovens não cometeram suicídio por conta do heavy metal, e sim porque vinham de lares destruídos, e estavam profundamente envolvidos com bebidas e drogas. McKenna,baseou sua tese de acusação no fato de a música do Judas inspirar a violência e o péssimo comportamento. No decorrer do processo, McKenna percebeu que precisava de uma nova “bola em jogo” para sustentar sua acusação, e quando o processo caminhava já a favor da banda, é declarada a existência de mensagens subliminares no disco todo, especialmente na faixa “Better By You Better Than Me”. McKenna declara a existência de um “do it” (faça!), que se repetia como um looping enquanto o refrão é cantado. Mais tarde foi descoberto que havia uma combinação de overdubs de guitarras, e, se o leitor amigo prestar atenção, escutará algo parecido com o do it, mais talvez porque isso tenha sido dito, até mesmo aqui nesse texto. O irônico é que Stained Class possui bem menos overdubs que os demais álbuns dos anos 70. O mais “irônico”, segundo Halford, é que escolheram uma canção que não é da autoria do Judas Priest. “Better By You... “foi uma tentativa de emplacar a banda nas FM´s. A letra não fala sobre suicídio ou mal comportamento, e sim sobre o sentimento de lutar na guerra para defender seu país, mas para isso é preciso abandonar a namorada para ingressar no front de combate. Se o leitor amigo quiser conferir uma pequena entrevista no youtube a respeito desse assunto, basta pesquisar: “Attorney Ken McKenna Subliminal Judas Priest Trial Interview.”
Muito é dito sobre mensagens subliminares. Quando, por exemplo, a BBC fazia suas transmissões nos anos 1920, muitos acreditavam que o rádio era algo maligno. Para mudar essa atitude, a BBC construía pequenos trechos em seus jingles que ficavam “ocultos” ao ouvido, mas que poderiam ser captados pela mente. Esses trechos tocados de trás para frente diziam o seguinte ao ouvinte amigo: ”Isto não é um laço, não, realmente isso não é.”.
No caso do processo, o juiz deu ganho à banda por entender que se tratava de um “acidente” de produção e que a existência do “do it” era apenas combinação de diferentes sons de guitarra sobrepostos.
O leitor amigo poderá concordar ou não com a possível existência das tais mensagens subliminares, ou mesmo, que Stained Class é o disco dos anos 70 que mais apresenta a sonoridade e peso dos 80´s. Audição altamente recomendável.

Píer Carllo Braghirolli
pcl-brag@uol.com.br

Obrigado de novo, Pier :)

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